Dois Cantos

29.8.06

Nerds: Esses seres encantadores.

Quem são esses seres estranhos, com humor peculiar e que conseguem saber com detalhes todas as histórias malucas sobre coisas impossíveis de acontecer aqui, mas que estão rolando num mundo paralelo?

Aquelas pessoas tímidas, quietinhas, que na escola são alunos excelentes e fora são quase invisíveis quando ainda são adolescentes?

Essas pessoas são o máximo, e o convívio com eles é simplesmente demais!

Pra começar, eles sabem fazer piada. E piadas, claro, inteligentes. Os comentários, as associações... É divertido conviver com um nerd.

Além disso, eles sabem ser irônicos, sarcásticos.

Também é cultural. Nerd é uma pessoa que curte informação. E normalmente eles buscam informações, e o porquê disso, e o porquê daquilo. E as histórias todas que eles gostam (HQs, cinema e afins) sempre têm que ter uma explicação lógica e razoável para que eles gostem. Então eles sempre conseguem extrapolar essas explicações para outras coisas da vida. Sendo assim, eles sempre têm assunto, eles sempre têm o que perguntar, o que explicar...

Não posso dizer que é saudável conviver com um nerd, já que eles devem ser alimentados com pizza e coca-cola com freqüência, mas com toda certeza não é alcoólico viver com um nerd.

Horário também é uma coisa secundária na vida de um nerd. Eles são seres primariamente noturnos. Acredito que, para os nerds mais velhos, isso venha da época em que o único horário que eles conseguiam usar o videogame na TV sem ninguém pra atrapalhar era de madrugada, e para os mais novos, acho que isso vem do horário que eles conseguem usar a internet sem ter ninguém enchendo o saco.

Outra característica marcante dos nerds é que eles têm um apreço especial por determinados tipos de roupas. E o mais engraçado é que não é uma coisa universal. Cada um tem a sua peça, ou cor, ou tecido, preferido, independente do que os outros nerds gostem. Mas a relação dele com essa roupa é de complementaridade... ela é quase um ser vivo e um não vive sem o outro. No caso do meu nerd, a “coisa” é com blusas de moletom cinzas de capuz. Só ela é capaz de aquecê-lo suficientemente no frio!

Nerds são pessoas carinhosas, mas de um jeito muito peculiar. Por exemplo, contar com detalhes uma história incrível sobre o mundo mutante é uma prova de carinho de um nerd, pois eles guardam isso com carinho, e contar essas histórias é, para eles, praticamente abrir o coração. Então, se você souber o quanto isso vale para ele, com certeza vai se sentir privilegiado de ouvi-lo!

Eles também são meio desligadinhos, mas isso é um charme dessas criaturas!

Nerds são realmente seres encantadores, especialmente aquele nerd que está do seu lado, dividindo tudo com você. Eu não troco meu nerd por nada nesse mundo!




29 de agosto:
- dia nacional de combate ao fumo (Ah! Nerds normalmente não fumam também!).

21.8.06

Meu rico pai

Neste final de semana conheci uma pessoa extremamente desagradável. Talvez a pessoa mais desagradável com quem já conversei.

Eu e o Kiko fomos buscar uma pessoa em treinamento num hotel e entramos para esperar. Eis que vem então o palestrante do dia perguntando quem éramos e se fazíamos parte do programa. Dissemos que não, que estávamos apenas esperando alguém que estava fazendo o treinamento.

O cidadão, que eu nunca tinha visto antes na minha vida e nunca mais verei de novo, então se apresentou como uma pessoa rica, que ganha 37 mil reais por mês, mesmo sendo faxineiro e tendo cursado apenas até a quarta série primária. Tudo por conta do dito cujo programa. Ele então perguntou o que fazíamos da vida, e respondemos que somos publicitários.

Ele então começou a dizer que o Kiko é um idiota por não ganhar 37 mil reais por mês e que eu era ainda mais idiota por ficar com ele, por acreditar nas promessas que ele me fez.
Levando tudo na brincadeira (é, porque eu não acreditei que alguém fosse capaz de falar naqueles termos com alguém que não conhece) eu disse sorrindo que o Kiko não precisava me promoter nada e que nós estamos bem deste jeito e que gostamos do que fazemos. E o cidadão diz pra gente “é... pobre faz o que gosta, rico faz o que convém.”

Aí ele começou um discurso dizendo que não achava certo alguém com curso superior ganhar o que ganha aqui no Brasil, que todos os irmãos dele são formados mas ele, o único que não estudou, ganha muito mais que os outros, e, em tom de deboche, estava tentando provar pra mim e pro Kiko que dinheiro é tudo, é a coisa mais importante do mundo.
Eu não acho, eu não concordo com isso, mas respeito que tem opinião diferente da minha. Não gosto é de gente que tenta mudar a minha opinião a qualquer custo.

Ainda em tom de deboche, o cara disse que acha importante fazer curso superior, que a filha dele faz faculdade também. Ele não sabe faculdade do quê a filha faz, mas “ele tem dinheiro pra pagar isso”.

Eu, educadamente, disse que não achava isso muito interessante, que não pensava diste jeito, mas aí ele apelou dizendo que a única coisa boa que meu pai podia me dar na vida era dinheiro. Que foi dinheiro que me fez fazer faculdade e ser quem eu sou, e ainda perguntou se meu pai era rico.

Na hora, eu perdi a paciência e tentei explicar que algumas coisas não se resumem a dinheiro, que um pai presente é muito mais importante e coisas assim, nas quais eu realmente acredito.

Eu devia, no entanto, ter respondido pro cara:
“Meu pai? Meu pai é rico, sim. Muito mais rico que você. Meu pai é tão rico, tão rico, que nem todo dinheiro que você ainda vai ganhar nessa vida pode comprar o que ele tem. Meu pai é muito rico, mas você, com essa sua visão de mundo medíocre, não é capaz de mensurar o valor das riquezas dele. Boa noite!”

Existe uma diferença muito grande entre riqueza e pobreza. E essa diferença é ainda maior quando estamos falando em riqueza e pobreza de espírito.


21 de agosto
- dia da habitação
- dia do folclore

20.8.06

Museu da Língua Portuguesa

Já fazia tempo que eu morria de vontade de visitar o Museu da Língua Portuguesa, então aproveitei minhas férias, o curso que tinha em São Paulo, e fui pra Estação da Luz.


Ao contrário do que podem imaginar ao mais desavisados quando falamos em um museu da língua portuguesa, o lugar não é cheio de livros velhos e bustos de escritores consagrados. Na verdade, o museu é demais! Eu fiquei apaixonada.

Para começar, o próprio prédio da Estação da Luz já é maravilhoso. O museu em si é dividido em três andares: o primeiro com uma exposição que muda sempre, o segundo traz a história da língua, influências e um jogo de montar palavras, e o terceiro com um filme e uma apresentação fantásticas de textos.

Quando eu fui (dia 11 de julho), o primeiro andar tinha uma exposição de “Grande sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa. Iluminado e com um clima de sertão mesmo, o ambiente do primeiro andar do museu estava extremamente envolvente. Páginas do livro datilografadas em pedaços de pano, como bandeiras, revisadas pelo próprio autor, penduradas em varais e presas lá em cima, perto do teto, por saquinhos de areia que desciam e ficavam na altura da minha cabeça. Dava pra puxar essas bandeiras do livro pra baixo, para ler, e aí os saquinhos de areia iam pra cima enquanto eu segurasse a bandeira lá embaixo.

Ainda neste clima árido, vi algumas frases escritas em tijolos, frases ao contrário em barris de água que só podiam ser lidas com a ajuda de um espelho e montes de “entulho” com tinta que se transformavam em textos quando eu olhava de cima de umas escadinhas localizadas nos cantos do salão do primeiro andar. Também tinha umas frases escritas nas paredes, mas dava pra ler porque faltavam algumas letras, e outras frases escritas em painéis de acrílico, que também não dava pra ler porque faltavam várias letras, e, entre as demais coisas expostas, uma argolinha presa num apoio através da qual eu devia olhar para que a frase do painel de acrílico se sobrepusesse à frase da parede de modo que elas se completavam.

Fiquei impressionada com a quantidade de crianças ali. Todas interagindo com a exposição.

Fui então para o segundo andar, que é escuro e tem um clima todo tecnológico. A primeira coisa que vemos quando entramos neste ambiente é uma tela gigante, que ocupa uma parece inteira do lugar. Ali vemos temas totalmente ligados a nós, como carnaval, futebol e danças, com um texto que liga tudo á nossa língua.

No meio do salão do segundo andar, alguns pilares contam a história das influências que a língua vem sofrendo no Brasil, desde os índios até os orientais, em ordem cronológica.

Na parede do fundo desta sala, temos uma “árvore genealógica” das línguas.

Ao longo de uma das paredes laterais, vemos a história da língua, desde muito antigamente até hoje, com destaque especial para o século 20 e os primeiro anos do nosso século atual, passando pelas propagandas, rádio, TV e pelas linguagens regionais até chegar na linguagem da internet. Tudo pequenos “dicionários” que “traduzem” a língua falada para a dita “culta”, o que é muito interessante, especialmente para quem tinha acabado de ler “Preconceito Lingüístico” do Marcos Bagno. Vale a pena ler o livro, conferir a seriedade com que são tratadas as diversas formas que temos de falar a mesma língua no Museu da Língua e pensar um pouquinho, rever nossa postura!

Ainda neste andar, temos um jogo formado por uma mesa que parece uma tela de computador. Nesta mesa, ficam “andando” pra lá e pra cá sílabas soltas. Ao passar a mão por cima da mesa a uma distância de uns 10 cm, o contorno do nosso braço e seus movimentos são reproduzidos na superfície da mesa e empurram as sílabas. Dessa forma, podemos formar palavras. Assim que formada uma palavra, o jogo explica seu significado e começa tudo de novo. O que mais me impressionou neste jogo foi a quantidade de crianças participando. (Aliás, não só do jogo, mas do museu todo. Algumas, inclusive, ainda não era alfabetizadas, mas pediam para as mães ler e explicar as coisas interessantes que viam). Eram muitas crianças brincando de formar palavras e a rapidez com que jogavam e formavam as palavras era impressionante.

No terceiro andar, temos a Praça da Língua e o Beco das Palavras, um espaço maravilhoso, onde podemos ler nas paredes textos lindos, intrigantes, famosos... Assistimos a um filme que fala sobre a língua e, em seguida, vamos a um lugar especial, onde ouvimos leituras deliciosas e somos presenteados com um show de lasers. Este último não dá pra explicar. Tem que ver pra sentir.

Eu recomendo com toda certeza o Museu da Língua Portuguesa. Basta pegar o metrô e descer na Estação da Luz. Eu paguei R$ 4,00 para entrar. Estudantes e pessoas com mais de 60 anos devem pagar menos.


20 de agosto
- dia do vizinho
- dia do maçom