Dois Cantos

1.11.06

Paradoxo

Cada vez que uma pessoa próxima vai embora eu fico pensando na vida, tentando inutilmente achar sentido em algumas coisas. Tomo decisões fugazes, encho minha cabeça de dúvidas e, por fim, volto à minha vida.

Fico pensando em todas as coisas que eu queria fazer. Sinto que tem um mundo inteiro me esperando, e que eu é que não posso mais esperar.

Sinto uma angústia. Alguma coisa fica sussurrando no meu ouvido, dizendo que não vai dar tempo de fazer nada. Acho que sofro da síndrome do coelho da Alice. Pra mim, parece que é sempre tarde. É tarde, é tarde, é tarde! Não vai dar tempo!

O tempo está passando e eu estou aqui, sentada numa cadeira em frente a um computador me embriagando com imagens e informações virtuais, adquirindo uma pseudocultura de banheiro com coisas que eu quero, na verdade, ver, sentir, tocar e aprender ao vivo.

O tempo vai passando e eu vou conhecendo lugares maravilhosos apenas através de livros. Dos livros e das imagens que minha mente produz a partir do que leio neles. E isso mostra para mim o quanto é falsa a minha sensação de liberdade à noite, quando eu chego na minha casa e posso fazer de janta o que eu quiser. Isso mostra que minha autonomia de ir e vir não vai além da padaria na esquina.

E depois de uma breve depressão, acabo me convencendo de que um dia farei tudo que sonho. Um dia eu terei tantas histórias que eu terei que escrever um livro. Acabo me convencendo mais pelo cansaço de me sentir assim do que por qualquer outro motivo, porque eu gosto de gostar da minha vida.

É paradoxal, eu sei. Porque se eu fizesse tudo o que passa pela minha cabeça quando eu entro neste estado filosófico que sucede uma despedida eu teria que deixar para trás um monte de coisas maravilhosas que eu vivo e que são incompatíveis com muitas das coisas que eu desejo. E eu não quero deixar nada pra trás.

Acho que eu é que sou complicada. Aposto e ganho que se vivesse as outras coisas que quero e não vivo, eu ficaria assim também. E acho que não seria só depois das despedidas. Seria muito mais.

Mas a melhor parte de ser assim complicada, com tantas vontades e tantos sonhos, sem dúvida nenhuma, é ter do meu lado alguém que sente isso. Que quer muitas coisas diferentes, mas comigo junto. E que não quer deixar nada pra trás também.

A melhor parte de assim enrolada é que um dia, quando eu falei que eu sou complicada, o homem da minha vida disse que não me via como um rolo, mas como solução.



1º de novembro
- dia de todos os santos(1512)
- as pinturas de Michelangelo no teto da Capela Sistina são exibidas ao público pela primeira vez.

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