Dois Cantos

21.8.06

Meu rico pai

Neste final de semana conheci uma pessoa extremamente desagradável. Talvez a pessoa mais desagradável com quem já conversei.

Eu e o Kiko fomos buscar uma pessoa em treinamento num hotel e entramos para esperar. Eis que vem então o palestrante do dia perguntando quem éramos e se fazíamos parte do programa. Dissemos que não, que estávamos apenas esperando alguém que estava fazendo o treinamento.

O cidadão, que eu nunca tinha visto antes na minha vida e nunca mais verei de novo, então se apresentou como uma pessoa rica, que ganha 37 mil reais por mês, mesmo sendo faxineiro e tendo cursado apenas até a quarta série primária. Tudo por conta do dito cujo programa. Ele então perguntou o que fazíamos da vida, e respondemos que somos publicitários.

Ele então começou a dizer que o Kiko é um idiota por não ganhar 37 mil reais por mês e que eu era ainda mais idiota por ficar com ele, por acreditar nas promessas que ele me fez.
Levando tudo na brincadeira (é, porque eu não acreditei que alguém fosse capaz de falar naqueles termos com alguém que não conhece) eu disse sorrindo que o Kiko não precisava me promoter nada e que nós estamos bem deste jeito e que gostamos do que fazemos. E o cidadão diz pra gente “é... pobre faz o que gosta, rico faz o que convém.”

Aí ele começou um discurso dizendo que não achava certo alguém com curso superior ganhar o que ganha aqui no Brasil, que todos os irmãos dele são formados mas ele, o único que não estudou, ganha muito mais que os outros, e, em tom de deboche, estava tentando provar pra mim e pro Kiko que dinheiro é tudo, é a coisa mais importante do mundo.
Eu não acho, eu não concordo com isso, mas respeito que tem opinião diferente da minha. Não gosto é de gente que tenta mudar a minha opinião a qualquer custo.

Ainda em tom de deboche, o cara disse que acha importante fazer curso superior, que a filha dele faz faculdade também. Ele não sabe faculdade do quê a filha faz, mas “ele tem dinheiro pra pagar isso”.

Eu, educadamente, disse que não achava isso muito interessante, que não pensava diste jeito, mas aí ele apelou dizendo que a única coisa boa que meu pai podia me dar na vida era dinheiro. Que foi dinheiro que me fez fazer faculdade e ser quem eu sou, e ainda perguntou se meu pai era rico.

Na hora, eu perdi a paciência e tentei explicar que algumas coisas não se resumem a dinheiro, que um pai presente é muito mais importante e coisas assim, nas quais eu realmente acredito.

Eu devia, no entanto, ter respondido pro cara:
“Meu pai? Meu pai é rico, sim. Muito mais rico que você. Meu pai é tão rico, tão rico, que nem todo dinheiro que você ainda vai ganhar nessa vida pode comprar o que ele tem. Meu pai é muito rico, mas você, com essa sua visão de mundo medíocre, não é capaz de mensurar o valor das riquezas dele. Boa noite!”

Existe uma diferença muito grande entre riqueza e pobreza. E essa diferença é ainda maior quando estamos falando em riqueza e pobreza de espírito.


21 de agosto
- dia da habitação
- dia do folclore